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sábado, 12 de outubro de 2013

colapso

img de angélina nové


a um passo do fundo
um segundo do poço
uma poça em neptuno
o atrito do soco

do início ao fim 
do sem sono

dança lentamente

(rente à memória do lapso
frente ao espelho em que pasmo)

um espetáculo 
de colapsos

o silêncio

img de Corey Goldberg

me estranha
entranha
intensa

o silêncio
me arrebenta

toda vez
q se
reinventa




quarta-feira, 2 de outubro de 2013

receita para enlouquecer





ignore a memória coagulada na garganta

siga a ordem dos sintagmas

pense despotência
minta engane aprenda-se

seja óbvio objetivo prático

não dê o devido valor ao café
dê o delito favor à fé

por higiene e saúde
lave seus livros
com hipoclorito de sódio

seja plurissílabo

bata na porta dos fundos
abuse do por favor
do obrigada
do sinto muito

não beba
não fume
não fuja
não babe
não grite
não grave

finja
o tom de voz daquela pessoa

esqueça

não escreva

mantenha a calma
a cama arrumada
desengatilhe a arma
faça a barba
faça um plano
limpe o quarto
lave o prato
vista branco

suporte o sufoco
dos prefixos
a an dis des in i

engula todos os anfíbios

e feche em si
a porta hospício


ao entrar

*

Créditos da imagem:
foto por Aaron Nace


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trago 
a pessoa 
amada

img de Angélina Nové

desmoldes

duro
      é dormir
     sem ter

uma moldura                           
que dê                  
para o mar                        
que dê                  
para a lua                     

que dê
para quem 
quiser dar

img de Brian Oldham

lobo

ele

abalou-me
o complexo
equilíbrio
do ventre

fez o estrago
mais
terrorífico
e belo

faminto 
e feroz
como um lobo 

bolado
comigo


img de Rob Woodcox

sexta-feira, 26 de julho de 2013

ornamento

por Anja Stiegler


ininterrupta
e maldita

vazei
a moldura
contrita

rasguei
tela e tinta

dei
sem querer
um sim
de doer

que jamais daria

e pendurei
no centro do ar
da sala mal estar
nossa
fotografia


Viagens colíricas I



Viagens colíricas é um jeito que encontrei de compartilhar as marcas, comoções, impressões que a poesia contemporânea me infringe. Assim, escolherei uns poemas de alguns autores para partilhar com vocês numa roda de amigos, à base de muita cafeína,  claro.


“Nós em miúdos” de Hercília Fernades – Editora Patuá

Hercília Fernandes publicou dois livros com apoio do SESC-RN, participou de antologias, organizou e integrou a obra Maria Clara: uniVersos femininos (LivroPronto: 2010), prefaciou e posfaciou livros de poemas. Pedagoga, Mestra e Doutoranda em Educação (PPGEd/UFRN), é professora da Universidade Federal de Campina Grande. 



A poesia de Hercília é, a meu ver, uma forma de resistência (como toda poesia), um estar contra a corrente da vida que nos arrasta às superficialidades das coisas e dos sentimentos como uma ingênua tentativa de sobreviver e sentir menos. Sua poesia coloca-nos em contato com um sentir intenso e belo, com um olhar específico, que desde o centro, foca a periferia das atenções e desvela novos e velhos motivos. Sobretudo, a sua poesia nos faz um STOP e se trata de...



Recesso,
9 fev. 2009

meu peito está em recesso
aberto à contemplação aos motivos
que antecedem as mãos sobre o verbo
nada há de polêmico, comprimido, ascético
apenas fumaça, poeira, vastidão...

Uma parada poética e mística, olhar contemplativo sem medo de mirar o aparente vazio, caos de poeirafumaça... Uma vez que a criação se dá pelo verbo, o eu lírico ousa estar nesse momento antecedente, como quem se coloca diante da origem de tudo, em recesso, em silêncio, em aberto...

Sandice,
21 mai. 2009

enquanto você sonha
me devora em sua sandice calado
eu ponho meus óculos de sombra
e me afogo na superfície
do aquário

            Eu tenho que confessar que sou uma adicta do som. Para mim, o som das palavras é muito importante, como o gesto, ou a expressão que acompanha a fala e fica insinuando outros significados que a gente apreende antes mesmo do significado semântico do que é dito. E admito que fiquei absolutamente seduzida pela sensualidade desse poema. Até porque adoro a letra a S. Acho mesmo que a sensualidade é um pouco esse afogar-se na superfície do aquário e dar ouvidos aos “esses” da pele. O que vocês acham?

Sentimento,
21 jan. 2009

falta mais para tingir
o pano
falta faz um rio
sangrando
falta traz paixão
ou engano
falta [me] apraz:
o coração é tamanho!

A falta é um dos meus temas prediletos. Faz parte da sensação existencial que a gente tem de estar incompleto. E por ser tão universal, sempre corre o risco de cair no clichê. O ponto exato é difícil, desafiante demais. Mas o eu lírico aqui deu no alvo de um jeito tão original e gostoso! Uma falta que parece que desemboca em uma espécie de plenitude que torna maior a falta inicial, afinal o coração é tamanho. Ambiguidade (que delícia!). Sem o tom triste ou depressivo que acompanha a falta (talvez o clichê esteja no tom que acompanha o tema, vai saber...). E as imagens do pano, tinta, rio. É uma amplidão vasta. Mas é uma falta que apraz! Esse é um dos poemas para a gente decorar e sentir a dor e o alívio de existir. Porque o nosso sentimento é tanto e tamanho...

Embaraço,
21 mar. 2010

quando vieres
perceberás folhas
noutras paragens
meus olhos duros
que nem rocha
perplexos de ti


Eu adoro essa parada que a poesia da Hercília faz a gente dar. Esses “olhos duros que nem rocha, perplexos” são quase uma placa física de STOP diante da gente, se não parar um carro passa por cima, heheh. O verbo perceberás já coloca nossa atenção pra funcionar. Mas o problema mesmo é quando a gente acaba o poema e percebe que a perplexidade pode estar ou ser dos nossos próprios olhos... É conviver com o embaraço do poema que nos ousa ler...

Espero que vocês tenham gostado da pequena partilha! Mês que vem, veremos juntos uns textos do livro “Outro dia de folia” do Eduardo Lacerda. Se alguém quiser escolher algum poema do livro para a gente sentir junto é só colocar o nome no comentário dessa postagem.

Bj bj bj!

Ah! O link para quem se interessar em comprar o livro da Hercília está aqui:

E tem também o link do Blog, (a descoberta da semana que não pára de me fazer feliz!) bora seguir!



sábado, 15 de junho de 2013

acrílico



frágil
conto
os
fios de cabelo

as
falhas nas
sobrancelhas

pincelo
pelos
ralos

lapsos
e cansaços

depois da
vasta farsa

de todos os risos

com 2 ou 3
traços
raros

sobre acrílico
te improviso

quarta-feira, 29 de maio de 2013



q se danem
os danos

sobre e sob
os panos

tudo se ata
ao engano

gozar ao errar
é humano

domingo, 26 de maio de 2013

Benfazeja

Minha postagem de maio na Revista Benfazeja. Este mês fiquei um pouco atrasadinha porque estou trabalhando bastante aqui na España antes que comece o Máster e estudando muito espanhol...

Mas logo mais tem uma novidade na Benfazeja, postarei também por aqui e no Facebook ;)

http://www.benfazeja.com/2013/05/blog-post_24.html

sexta-feira, 24 de maio de 2013

encosto a parede
afasto a porta

reforço
o seio q
sustenta
a janela

sem
maçaneta

acendo e abro
o corpo
na tela

com um
pouco
das cores
do colo
dela

perplexa
e pasma 

enquanto 
vc passa 
sem graça 

o possível 
impassível 
me abraça


atentar
ao tom do
teu respiro

el sonido

ao roçar
do ouvido

recompor-me
da vertigem
no giro

e depois

a dó
o dom
a dor

o estio


avalio
qto vale
esse valium

que avassala

eu largada
aleatória
na tua calçada




domingo, 5 de maio de 2013

sexta-feira, 3 de maio de 2013



a vida
ñ tem
tanto tempo

tanto ermo
tinto extremo

assim 
sendo

click nesse link
e leminski-se

terça-feira, 30 de abril de 2013



às vezes
...
um vaso
sem cores
...

tudo
a sua volta
resiste

à espera
da porta
que insiste

em receber 
essas flores

quarta-feira, 24 de abril de 2013

"ufanaciones"













meu país

please!

custa caro
pra caralho

pro turista
milionário

pro cidadão
patriotário

e exporta
apostila

pra fazer feliz

porres
mandatários
de qq 
alter país

domingo, 7 de abril de 2013

flerte

curto
como um
susto

ligeiro
como um
furto

fixo
-te
e surto
circuito

sábado, 30 de março de 2013

páscoas

tenho a
impressão
vaga

de q a vida

mesmo
escassa

basta

e q
ñ há
outro
mistério

do q a
ligeira

destreza

de ñ
levar-se
a sério

enquanto
a noit
passa

domingo, 24 de março de 2013




há um excesso brando
no buraco negro

tatos
que
tragam
toques
a/menos

mera
seda
tecida

a dedos

ma/cios
acesos

no buraco 
negro

sexta-feira, 22 de março de 2013

fêmeas

sempre há
fome

até que
às tantas

uivos y
óvulos
livres

o céu
pode
ser

simplesmente

ñ mais
que um
veludo
camursa

sem unhas
feitas

ou interrupções
precoces

segunda-feira, 18 de março de 2013

terça-feira, 12 de março de 2013

Catedral de Sevilla
















mar de pedras
e picos
cumes 
e silêncios
arredondados

esparramada
sobre solo
amplo

feres fria
sevillano céu
solar
com ibérica
lágrima
q te faz
vela
de 7 dias
e séculos

prorrogando
preces
de duros traços
e vastas faces

sábado, 23 de fevereiro de 2013












sob a sombra
desse sábado
escasso
e lento

entre dádivas
dedos de
pó e cimento

com parco carinho
texto a dentro
me desinvento














cultivo
o inútil

controversa
como quem
perdeu
muito

se
relapsa
atento
a algo

volto
contrita
e divago

doando-me
ao tempo

para dentro
do próximo
trago

domingo, 6 de janeiro de 2013

estranho
tanto
êxito

enquanto

teço
um texto
de meus
desconcertos

ñ sei bem
ao certo
de que

frequentemente

adoeço

sábado, 5 de janeiro de 2013

acordo
descordando

como quem
cede o dia

ao sono

carrega o peso
e o desespero

dos erros

que ñ cometeu
hoje
eu só
quero
encontrar
um jeito
p´ra q

o coração

cesse

dentro
do peito

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

falta

de estreitos
à extratos

paredes e
aparências

amenas

a velha veia
de tanto pulso
e porrada

repulsa

essa falta
relapsa

q imóvel
ñ poupa
me apaga
e ñ passa

ñ passa
ñ passa

cansei
passo
a vez

a fim
de um
recomeço

mais fácil

finco
feito carne
o mundo
nu teu corpo

e asso